"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A casa...


Existe uma casa. Antiga. Daquelas casas como as que a gente vê pela estrada... uma porta no meio e duas ou três janelas quadradinhas de cada lado. Essa é grande. Sei que é antiga. E fechada. Toda fechada. Portas e janelas. Sempre tenho a impressão que está assim... fechada... há muito tempo. Ela está em um espaço totalmente silencioso e deserto. Não existe ninguém em lugar nenhum. O silêncio é quase insuportável. As árvores ao redor não são balançadas pelo vento. Acho que não existe vento. Parece uma fotografia. Tudo estático. Ela não fica ao nível do chão. Está em cima de um patamar de pedra, eu acho. É preciso subir uns degraus de pedra pra alcançar a porta.
Quando eu chego até a porta, tenho nas mãos um enorme aro de metal com muitas chaves... daquelas chaves antigas que eram usadas para abrir casas também antigas... Muitas chaves! Inúmeras! Segurar o aro exige até um certo esforço devido ao peso causado pelas chaves. É muito inquietante chegar ali, em frente àquela porta com todas aquelas chaves. E eu preciso abrir. Eu sei que cheguei até ali por estar fungindo de algo ou alguém que me persegue incansavelmente. Nunca o vi. Não imagino o que ou quem seja. Mas sei que sou perseguida. E sei que não quero ser alcançada. Preciso me proteger dessa perseguição. Isso é claro pra mim. Vou ter que entrar na casa. Isso também não me é confortável, mas... sei que prefiro. É tudo muito tenso... Todas aquelas chaves... tenho que testar cada uma delas até conseguir abrir a casa. E vou tentando de uma forma muito rápida e nervosa. Se eu não conseguir abrir logo vou ser alcançada. Ao mesmo tempo... a cada chave que testo... sou acometida por uma enorme tensão ao pensar que a casa pode, a qualquer momento, ser aberta. Mas é o que escolho. Prefiro entrar. Não sei o que tem lá dentro. É uma casa muito antiga... fechada há muito tempo... não sei quem viveu lá um dia... que vidas aconteceram lá...se vou encontrar fantasmas dessas vidas que habitaram lá... É muito aterrorizante! Mas... estando lá... sempre tenho a plena convicção de que é melhor conseguir a chave e abrir a casa do que me deixar ser alcançada pelo que me persegue.
Sempre acordo antes de conseguir abrir e antes de ser alcançada...
E sonho novamente um dia... e depois esqueço... E depois de alguns anos sonho de novo... A mesma perseguição... a mesma casa...
Tibet

domingo, 2 de agosto de 2009

"Sequestro da Subjetividade"

"Pequenas permissões podem ser o início de grandes invasões. Grandes tragédias começam com pequenos descuidos. Desastres terríveis podem ter seu início em displicências miúdas. O "agressor" não repreendido cresce e se fortifica porque a "vítima" o nutre. O inimigo só sobrevive à medida em que se injeta sangue em suas veias."
Esse é um trecho de um texto do Padre Fábio de Melo sobre algo que ele chama de "Sequestro da Subjetividade". Achei muito interessante isso que ele disse e resolvi colocar aqui com dois objetivos.
Primeiro objetivo: Filosofar sobre a subjetividade a que temos direito. Muitas vezes ficamos desatentos em nossas relações com o mundo e acabamos por "desleixar" da nossa subjetividade e das coisas que nos são importantes e fazem sermos quem somos. Se esse descuido acontece e subjetividades alheias se agregam a nós no intuito de nos violentar de uma forma velada e não nos impulsionar ao crescimento, acredito que nós mesmos, mais do que ninguém, devemos ser responsabilizados por tal descuido. Então... observai e vigiai... rsrsrs... e se vc achar que orar resolve também essa questão... então... orai ... rsrsrs...
Segundo objetivo: Mais uma vez levantar uma bandeirinha pelo respeito à diversidade filosófico/religiosa. Eu escrevi algo (lá embaixo) sobre a minha opinião de que se deve respeitar qualquer linha de raciocínio/filosofia de vida no que tange ao campo da espiritualidade, inclusive opiniões que vão de encontro às próprias religiões como ateus e agnósticos. Com as devidas precauções contra aqueles "catequizadores violentos" de plantão, devemos respeitar e não estereotipar/excluir opiniões de pessoas que não compartilham da nossa crença/descrença para não se correr o risco de nos tornarmos fundamentalistas isolados em bolhas ideológicas. Fosse eu (agnóstica de plantão) pensar assim e não teria lido esse texto/trecho do padre. Li o texto... e gostei disso aí que ele falou... Achei interessante...
E é isso!
Tibet