"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Tempo...


Tenho vivido nos últimos dias uma espécie de deleite com o meu próprio universo.
E assim tenho me suprido tanto de mim e com tamanho prazer que acredito querer viver essa temporada sem nenhuma espécie de pressa ou ansiedade.
Degustar esse momento tem sido o meu único desejo.
Não me lembro ter vivido antes um período de tamanho bem-estar em mim mesma.
Nunca estive tão em mim!

"De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido...
 Tempo tempo tempo tempo..."

Tibet

terça-feira, 9 de abril de 2013

Pessoas e pessoas...


Existem pessoas e pessoas.
Tenho preguiça de umas... e "medo" das outras...
Existem algumas com as quais apenas uma minúscula porção de nós mesmos é suficiente (ou até demais) pra estabelecermos algum tipo de troca...
E então... pegamos todo o resto de nós... dobramos bem dobradinho e, simplesmente, guardamos em algum canto bem seguro. E toda essa imensidão ficará lá... guardada... empoeirando... durante todo o tempo que durar a "relação"... ou tentativa dela...
E a gente vai seguindo... e vai se esquecendo do tal "embrulho" que foi guardado um dia... até que, em um determinado momento, nos deparamos com alguma situação que nos faz sentir vontade de "arrumar a casa"... revirar tudo... "abrir baús e gavetas" e eis que, de repente, encontramos um "embrulho todo empoeirado" em um canto e nos vem aquela sensação de... "e eu que nem me lembrava que tinha guardado isto aqui?!"...
E então... recuperar o "embrulho" e voltar pra o que se tentava chamar de "relação" tornam-se coisas incompatíveis...
E... existem as outras pessoas...
Ah... essas outras...
Um dia olham pra você e simplesmente indagam: "Que embrulho curioso! O que tem dentro? Posso abrir?"
E essas pessoas vão enxergar os seus olhos, o seu pensamento, a sua lógica de perceber as coisas... o mundo dentro da sua cabeça...
Vão entender muito no pouco que você falar.
Vão desvendar um seu pensamento que até pra você parecia complicado...
Vão compartilhar longas e profundas conversas com leveza, despreocupação, sagacidade e uma cerveja bem gelada...
E com elas... até o silêncio compartilhado será acolhedor...
Com elas poderemos oferecer a maior porção que conseguirmos de nós mesmos...
Daí vem o "medo"...
"Medo" assim... entre aspas... por ser medo com prazer!

Existem pessoas e pessoas...
"Umas te roubam...
E outras te devolvem..."

Tibet

domingo, 7 de abril de 2013

Comigo...


"Seja o que acontecer, e apesar do risco de a superfície estar agitada, o fundo permanecerá imperturbável ."
Virgínia Woolf

Saber "degustar" uma boa dose de solidão de vez em quando não é pra muitos...
Mas... sugiro que o faça com moderação...
A despeito de raras companhias que nos são vitais...
Em determinadas personalidades, tal "degustação" pode vir a causar forte dependência...
E assim tenho andado...desfrutando ao máximo dessa minha ilustre companhia...
Costumo gostar muito desses períodos em que vivo assim...
São uns períodos de mais introspecção... mais lucidez... mais movimentação e até mais dor...
Mas... como diziam antigamente... é a "dor do crescimento"...

Tibet

sábado, 6 de abril de 2013

Virgínia...

Estou lendo atualmente a biografia de Virgínia Woolf  por Alexandra Lemasson.
É incrível como essas personalidades densas, profundas, complexas e instáveis me atraem tanto.
Uma das grandes representações da literatura inglesa, escrevendo ela se refugiava das alucinações e das sucessivas crises depressivas.
Em sua última carta, escrita ao marido antes de dar fim à própria vida, Virgínia evidencia a sua sensação de estar sendo, constantemente, assediada pela loucura.
Então, em março de 1941, encheu os bolsos do casaco com pesadas pedras e se atirou nas águas geladas do rio Ouse.
Sempre que leio Virgínia Woolf acabo a associando à Clarice Lispector (depois de Beauvoir, uma das minhas divas da literatura). Sempre achei Virgínia e Clarice personalidades muito afins e ambas de uma complexidade que nos dá a impressão de terem vivido as duas, durante todas as suas vidas, driblando um estado emocional bastante vulnerável e sujeito a uma mente aguçada demais na percepção do mundo à sua volta. Talvez uma lucidez extrema que chegava a beirar a loucura.
Outro dia li em algum lugar a opinião de Clarice quando lhe indagaram sobre essa possível similaridade. E ela disse:

"Não gosto quando dizem que tenho afinidade com Virgínia Woolf (só a li, aliás, depois de escrever o meu primeiro livro): é que não quero perdoar o fato de ela se ter suicidado.O horrível dever é ir até o fim".

"O horrivel dever é ir até o fim..." Rs.
Na minha opinião... ficou mais parecida ainda!

Tibet

Estado laico?



"É lamentável ver o discurso religioso sendo usado como se fosse um armamento bélico. Lideranças religiosas empunhando os seus livros santos como se fossem armas para derrotar os que professam outro credo. Igrejas se levantando umas contras as outras. Discurso religioso reduzido a um tom agressivo, partidário, desejoso de reunir fiéis, mas não para promover a paz, a concórdia. Discurso que tenciona aglutinar pessoas com o mero objetivo de demonstrar soberania e poder." Padre Fábio de Melo

Eu não sei porque é tão difícil aturarmos a "diferença" que habita o nosso semelhante. Diferença essa que avaliamos a partir de nossas próprias convicções. É incrível como estamos sempre prontos a "pilhar" aquele que não pensa, sente, crê, ama... aquele que, simplesmente, existe de uma forma que não a nossa. Esses dias eu andei lendo uma matéria sobre diversidade religiosa... estado laico... essas coisas... Essa matéria falava que a França anda proibindo (ou pensando em proibir... não ficou bem claro pra mim se ainda está a nível de proposta ou já está em vigor) manifestações de identidade religiosa em locais públicos como o uso do véu ou burca pelas mulheres mulçumanas, o uso da kipá pelos judeus, de crucifixos e terços pelos católicos... etc. A minha primeira impressão quando li sobre essa proposta foi a de estar enxergando uma laicidade às avessas! Corre-se o grave risco de se ferir algo muito íntimo e inviolável para o indivíduo que é a sua liberdade de crença e a sua identidade. Com as devidas ponderações acerca de excessos absurdos que assistimos por aí em nome das religiões, algumas, inclusive, violando ostensivamente a leis básicas no que concerne aos direitos humanos, não deixa, também, de ser uma agressão impedir que o indivíduo se manifeste, se locomova, viva de acordo com a crença (ou inexistência dela) que professa.
Os conflitos que por aí explodem não são causados pelas diversas e múltiplas religiões. São frutos da intolerância e busca por soberania e poder como citou o padre. Uma proposta dessa (eliminar os signos religiosos na convivência coletiva) seria assinar embaixo da nossa incapacidade de respeitar a diversidade. Seria afirmar com todas as letras que a paz só é possível através de uma espécie de maquiagem filosófico-religiosa que nos faça um pouco mais "iguais" uns aos outros para que possamos nos suportar.
Somos uma imensa pluralidade e todos, sem exceção, merecemos respeito: Os que crêem, independente do caminho que escolheram... E os que não precisam, necessariamente, de uma religião ou crença dessa natureza para construir a sua visão de mundo.´Esse é um direito muitíssimo pessoal. E intransferível.
Uma proposta dessa natureza não estaria na contra-mão da tolerância?
Ontem tive uma forte discussão sobre o tema com alguém de opinião extremamente oposta à minha. Quero deixar bem claro que nunca inicio uma discussão competitiva nesse campo. Acho que os caminhos abertos por crenças de caráter filosófico/religioso são incrivelmente pessoais e individuais. São impressões digitais. Discutir o que? Mas, se sou instigada veemente e com insistência tenho que responder (no caso de ontem, quase revidar! rs). O meu sangue ferve com a intolerância! Tenho as minhas crenças (e descrenças) que me movem e me tornam quem sou e a imensidão do resto do mundo tem as suas que podem ser afins à minha ou... completamente divergentes! Não quero debater! Nem discutir! Nem catequizar! Muito menos ser catequizada!
Por que é tão difícil respeitar a diferença no outro?! Pra que servem todos esses caminhos se não forem pra nos tornarem pessoas melhores, mais crescidas e mais capazes de viver e agir no mundo visando o bem coletivo?
"Amar ao próximo como a si mesmo." Esse deveria ser o ponto de convergência de todas essas religiões/irmandades/movimentos que se confrontam por aí em nome de Deus!
Toda essa divergência é um enorme equívoco! Será que ninguém percebe isso?
Odeio verdades absolutas. São muros intransponíveis!

Tibet

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Em mim...



Eu adoro meu quarto. Minha cama com o meu edredon... O barulho do meu ventilador... e o escurinho que a janela sustenta até que eu decida enxergar a claridade do dia. Eu sempre tenho uma sensação boa quando volto pra casa, muitas vezes tarde da noite ou já cedo do dia e me lembro que vou poder chegar e "apagar" no meu quarto. É uma sensação tão grande de conforto e aconchego que, muitas vezes, sinto vontade de sair, conversar, beber até cansar só pra ter essa sensação de voltar e me largar despreocupadamente nesse lugar com o qual me identifico tanto tanto...
E é bem assim comigo... aqui dentro... em mim...
Tenho um lugar aqui, que fui construindo dia após dia... ano após ano... luta após luta... para o qual sempre sinto um enorme prazer ao voltar. Sei que posso sair por aí, pela vida, pelas situações, pelas pessoas e... se eu "cair"... e me estraçalhar... vou poder correr pra cá... pra o meu lugar, no qual sei que vou me curar, me reconstruir e me fortalecer até que esteja pronta pra uma próxima "saída pelo mundo". E... sempre saio melhor do que cheguei. Nunca pior. Já passei algum tempo preocupada com o acolhimento que esse meu "canto" me proporciona. O conforto de estar em mim é tanto que não dava vontade de sair. Descobri que eu sou, de longe, a minha melhor companhia (rs). Isso me assustou de alguma forma pela sensação de auto-suficiência que me proporcionava que chegou a me tirar a energia necessária pra partir em direção a outras pessoas e relações. E passei comigo um bom pedaço de tempo.
Foi então que descobri que EU vou estar sempre aqui... em mim...
Como uma casa quentinha e acolhedora a me esperar toda vez que eu voltar das minhas voltas por aí... pelo mundo... pela vida... Uma casa sólida e consistente. Nela posso confiar. Sempre.
Então me tornei maior, mais forte e muito mais destemida.
Como uma pessoa-caracol... carregando a própria "casa" em si.

Tibet