"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

sábado, 6 de abril de 2013

Estado laico?



"É lamentável ver o discurso religioso sendo usado como se fosse um armamento bélico. Lideranças religiosas empunhando os seus livros santos como se fossem armas para derrotar os que professam outro credo. Igrejas se levantando umas contras as outras. Discurso religioso reduzido a um tom agressivo, partidário, desejoso de reunir fiéis, mas não para promover a paz, a concórdia. Discurso que tenciona aglutinar pessoas com o mero objetivo de demonstrar soberania e poder." Padre Fábio de Melo

Eu não sei porque é tão difícil aturarmos a "diferença" que habita o nosso semelhante. Diferença essa que avaliamos a partir de nossas próprias convicções. É incrível como estamos sempre prontos a "pilhar" aquele que não pensa, sente, crê, ama... aquele que, simplesmente, existe de uma forma que não a nossa. Esses dias eu andei lendo uma matéria sobre diversidade religiosa... estado laico... essas coisas... Essa matéria falava que a França anda proibindo (ou pensando em proibir... não ficou bem claro pra mim se ainda está a nível de proposta ou já está em vigor) manifestações de identidade religiosa em locais públicos como o uso do véu ou burca pelas mulheres mulçumanas, o uso da kipá pelos judeus, de crucifixos e terços pelos católicos... etc. A minha primeira impressão quando li sobre essa proposta foi a de estar enxergando uma laicidade às avessas! Corre-se o grave risco de se ferir algo muito íntimo e inviolável para o indivíduo que é a sua liberdade de crença e a sua identidade. Com as devidas ponderações acerca de excessos absurdos que assistimos por aí em nome das religiões, algumas, inclusive, violando ostensivamente a leis básicas no que concerne aos direitos humanos, não deixa, também, de ser uma agressão impedir que o indivíduo se manifeste, se locomova, viva de acordo com a crença (ou inexistência dela) que professa.
Os conflitos que por aí explodem não são causados pelas diversas e múltiplas religiões. São frutos da intolerância e busca por soberania e poder como citou o padre. Uma proposta dessa (eliminar os signos religiosos na convivência coletiva) seria assinar embaixo da nossa incapacidade de respeitar a diversidade. Seria afirmar com todas as letras que a paz só é possível através de uma espécie de maquiagem filosófico-religiosa que nos faça um pouco mais "iguais" uns aos outros para que possamos nos suportar.
Somos uma imensa pluralidade e todos, sem exceção, merecemos respeito: Os que crêem, independente do caminho que escolheram... E os que não precisam, necessariamente, de uma religião ou crença dessa natureza para construir a sua visão de mundo.´Esse é um direito muitíssimo pessoal. E intransferível.
Uma proposta dessa natureza não estaria na contra-mão da tolerância?
Ontem tive uma forte discussão sobre o tema com alguém de opinião extremamente oposta à minha. Quero deixar bem claro que nunca inicio uma discussão competitiva nesse campo. Acho que os caminhos abertos por crenças de caráter filosófico/religioso são incrivelmente pessoais e individuais. São impressões digitais. Discutir o que? Mas, se sou instigada veemente e com insistência tenho que responder (no caso de ontem, quase revidar! rs). O meu sangue ferve com a intolerância! Tenho as minhas crenças (e descrenças) que me movem e me tornam quem sou e a imensidão do resto do mundo tem as suas que podem ser afins à minha ou... completamente divergentes! Não quero debater! Nem discutir! Nem catequizar! Muito menos ser catequizada!
Por que é tão difícil respeitar a diferença no outro?! Pra que servem todos esses caminhos se não forem pra nos tornarem pessoas melhores, mais crescidas e mais capazes de viver e agir no mundo visando o bem coletivo?
"Amar ao próximo como a si mesmo." Esse deveria ser o ponto de convergência de todas essas religiões/irmandades/movimentos que se confrontam por aí em nome de Deus!
Toda essa divergência é um enorme equívoco! Será que ninguém percebe isso?
Odeio verdades absolutas. São muros intransponíveis!

Tibet

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