"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Releitura 2...


Como eu tinha falado aí embaixo, ando lendo (e relando, em alguns casos), umas coisas de Foucault. O que estou relendo agora é, na verdade, um trabalho muitíssimo interessante que foi coordenado por ele.
""Eu, Pierre Riviere, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão"
Em 1835, Pierre Riviere, de 21 anos e considerado um deficiente mental na comunidade na qual vivia, degolou sua mãe, sua irmã e seu irmão. O trabalho coordenado por Foucault faz uma compilação de peças e pareceres processuais, análises psiquiátricas controversas, notícias da época e narrações daqueles que conviveram com o assassino e nas quais são descritas atitudes, hábitos julgados estranhos e episódios de infância de uma personalidade tida como alienada e perturbada.
Além de ser um caso muito instigante por si só, por apresentar várias possíveis análises a partir de múltiplas perspectivas, as observações de Foucault e colegas ao final da obra dão um plus extraordinário em toda a história.

Pierre Riviere foi, inicialmente, condenado à morte, penalidade que foi, em seguida, comutada para prisão perpétua graças aos diagnósticos de debilidade mental.
Ele escreveu suas memórias na prisão. Memórias complicadas ao entendimento da nossa racionalidade lógica.

Recomendadíssimo!

Ah! A foto é do filme francês de René Allio, gravado em 1976 e baseado no trabalho coordenado por Foucault.
Ainda não tive a oportunidade de assistir. Não sei nem se foi traduzido pra gente aqui...
Mas, vou dar uma procurada por aí.
Se encontrar... eu conto!

Tibet

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